Entrevista com Cecília Cordova por Givanna Castro
Hoje daremos continuidade ao projeto Profissões em RI, onde entrevistamos profissionais de diversos campos das relações internacionais, tendo o intuito de compartilhar informações e curiosidades para nossos leitores sobre as mais diversas possibilidades de atuação.
Nossa convidada de hoje é a Cecília Cordova, que trabalha dentro do ACNUR e falará um pouco de suas experiências, visões e como é trabalhar dentro da Organização das Nações Unidas.
Abaixo você encontra a transcrição dessa conversa...
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Giovanna Castro: Para começarmos, fale um pouco sobre você. Quem é Cecilia, qual a sua formação académica e onde você trabalha atualmente...
Cecília Cordova: Eu sou advogada, tenho mestrado em administração de empresas e comecei a trabalhar nas Nações Unidas em 2004. Sempre quis trabalhar em algo assim que poderia ajudar o mundo e meu país. Tenho outros cursos relacionados a assistência humanitária, como em assistência humanitária e logística. Todas essas formações me ajudaram a estar no emprego que tenho agora.
Giovanna Castro: O que é o ACNUR? O que a senhora faz ali dentro e em que departamento trabalha?
Cecília Cordova: O ACNUR é o alto comissário das Nações Unidas que está encarregada de proteger todos os refugiados e apátridas por perseguições políticas, conflitos, etc., e também é um advocace para buscar apoio dos governos. Promovem soluções duradoras para as situações por meio de assentamentos e voluntários.
Eu trabalho numa unidade técnica responsável pela a assistência monetária. Tentamos dar assistências as pessoas refugiadas com apoio em diferentes áreas; seja social, psicológica ... e tentamos cobrir suas necessidades básicas. Estou trabalhando em assistência em dinheiro, especificamente. Nós fazemos isso através de um cartão pré-pago, para que (os refugiados) possam fazer suas compras, comprar comida, pagar o aluguel. O importante nessa assistência é que a pessoas decidem em que vão usar o dinheiro, conforme suas necessidades. Eles não estao recebendo cesta básicas ou roupa, mas o dinheiro, para que devolva a dignidade de escolher o que fazer com esse dinheiro.
Giovanna Castro: Como alguém pode ingressar no ACNUR?
Cecília Cordova: O mais importante antes de pensar em trabalhar nessa área, é começar a pensar se você tem esse compromisso em trabalhar para ajudar outras pessoas. Pense que é mais que um simples trabalho. (Deve) ter esse compromisso e querer fazer (isso). Se você está preparado, existe várias áreas das Nações Unidas que você pode trabalhar, não somente o ACNUR. Todas as páginas, de todas as organizações, são públicas as possibilidades de trabalho. Você é único que tem que monitorar. Também ver suas experiências e quais os términos que estão incluindo (pedindo) e se eles se batem. Quais sãos os requerimentos que devem sempre ser olhados. É muito importante que você tenha essa experiência e esse perfil para essa posição.
Giovanna Castro: O que te motivou a trabalhar nesta organização e a se especializar nessa área? Qual é sua trajetória de vida?
Cecília Cordova: Eu sempre gostei de trabalhar em assistência e ajudar as pessoas. Quando eu estudava no colégio, eu sempre participava dos grupos de apoio social, orfanatos, etc., sempre gostei disso. Sou advogada, mas quando eu terminei a universidade, fiquei sentindo como se algo faltava. Não me sentia confortável trabalhando como advogada. Eu pensava que podia fazer outras coisas, não somente trabalho de casos e casos comerciais. Queria sempre ir para o lado social. Mas valeu a pena estudar direito porque é (uma área) muito ampla e pode encaminhar para a área que você gosta.
Comecei a trabalhar nas Nações Unidas em 2004, e com perfil de advogada comecei a trabalhar em compras. Fazendo e revendo os contratos, revisando os perfis que estão de acordo (com o ACNUR). Esse foi meu primeiro trabalho, foi no programa de alimentação. Depois mudei, mas antes disso, eu pensei que deveria buscar algo mais para o que estava focando. Por isso busquei uma formação em administração. Gostei muitos dos números. Então, comecei a trabalhar na parte orçamentária e em relatórios. Porque quando se recebe uma doação, deve sempre entregar os relatórios financeiros, mostrando o que você fez com esse dinheiro. Dessa maneira é possivel ver o que foi feito com esse dinheiro dentro da organização. Gostei muito dessa parte
O que mais gostei foi quando em 2003, fizemos um programa para entregar dinheiro e não cestas. Foi um estudo muito interessante. Entregamos a um grupo de pessoas dinheiro, ao outro, cestas e outro cupons de dinheiro. Fizemos uma análise para ver qual seria a melhor ferramenta. Fiquei muito apegada, engajada e animada com isso. Gostei muito pois vi a possibilidade dessas pessoas escolherem e priorizarem o que queriam, ter o poder de decisão. Depois de passar por muitas situações, eles finalmente têm o poder de decidir.
Estou trabalhando nisso (nesse momento). Não era algo novo na época, mas agora está mais avançado, pois pouco a pouco vamos empregando novas coisas. Agora temos diferentes ferramentas e também processos de monitoramento que está mais de acordo com que estamos fazendo. Gostei muito e me encaminhei para essa área.
Giovanna Castro: Quais são os prós e os contras de trabalhar nesta organização?
Cecília Cordova: Os prós é que você está ajudando não somente o seu país, mas o mundo. Essa é sua porção par melhorar esse mundo. Acho muito importante os Sustainable Development Goal e penso que é muito importante trabalhar para alcançar essa meta. Acho que todos que devemos trabalhar para isso e essa foi a área que mais gostei para trabalhar e chegar a essa meta. Ainda falta muitos anos, mas já estamos caminhando para alcança-la. Outros prós é que você conhece muitas pessoas de muitas culturas e isso faz que você cresça mais, como pessoa e ser humano. Porque você aprende de todos e conhece novas culturas e coisas. É uma parte intangível das nações unidas.
O contra é que muitas vezes você tem que ficar longe da familia. É dificil, mas manejável. Graças a Deus temos agora a tecnologia que ajuda. A parte dificil também é que muitas vezes você vê muitas coisas duras e (acaba) se envolve com os problemas e vendo-os como seus problemas. São os problemas do mundo, mas você tem que aprender a mediar o quanto isso te afeta. Tem que afetar, claro, mas tem que controlar, porque se não (você) pode acabar se perdendo, e não vai estar ajudando a ninguém. Deve se importar, mas se controlar e equilibrar.
Giovanna Castro: Como mulher, foi difícil para você trabalhar nessa organização? Existem impedimentos?
Cecília Cordova: Não, acho que os únicos impedimentos é o que você mesmo se coloca. Não tem impedimentos (ao meu ver). Você se define e sabe o que pode fazer com seus conhecimentos, que aliás são muito importantes. Todos como pessoas temos alguma insegurança. Se você vai a algum lugar com guerra, deve-se ter precauções.
Já trabalhei em lugares que a mulher era considerada inferior ao homem, mas sempre tive respeito dos meus colegas porque sabiam que estávamos trabalhando para ajuda-los, sempre teve respeito, nunca tive problemas.
Giovanna Castro: Qual seria seu conselho para aqueles que desejam trabalhar no ACNUR?
Cecília Cordova: Acho que é muito importante estudar muito, preparar-se e fazer uma análise se você tem vocação para isso e tentar.
Giovanna Castro: Pode nos contar sobre um evento que aconteceu com a senhora, enquanto trabalhava, que te emocionou?
Cecília Cordova: Fiz um trabalho em Serra Leoa e estava na época do ebola. As pessoas estavam tão felizes porque voce estava lá para ajuda-las, todas essas pessoas sempre foram muitos amigáveis e sempre eram gratas pelo que voce estava fazendo apesar de todos os problemas que tinham. Porque não tinha somente o ebola, mas é um país com muitas necessidades, mas elas estavam sempre felizes. E outra ocasião foi no Iêmen, fiquei muito impactada vendo os meninos tão magrinhos caminhando descalços e isso me partiu o coração. Fiquei muito impactada, e vendo as pessoas caminhando com suas bolsinhas nas ruas e essa combinação me impactou. Mas é algo natural, aqui na américa não estamos acostumados, mas em outro país e algo natural. Como falava, é com respeito mútuo que se pode entender melhor as culturas dos outros. Mas realmente me impacto muito vendo os meninos tão magrinhos e necessitados. Isso na capital, onde têm mais gente que têm organizações ajudando, em zonas rurais deve se o pior. Daí tira forças para continuar trabalhando e ajudando eles.
Giovanna Castro, Acadêmica de Relações Internacionais na Universidade Católica de Brasília.
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