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Profissões em RI – Comércio Exterior

Entrevista com Camilla Cunha por Marcelo Almeida


Iniciamos hoje nosso projeto de entrevistas com profissionais de diversos campos das relações internacionais, tendo o intuito de compartilhar informações e curiosidades para nossos leitores sobre as mais diversas possibilidades de atuação. Começando com a área de Comércio Exterior, onde contamos com a participação da Professora Camilla Cunha.

Abaixo você encontra a transcrição dessa conversa...
















Marcelo Almeida: Para começarmos, fale um pouco sobre você...


Camilla Cunha: Ótimo… vamos lá então… Eu sou a Camilla, eu sou mineira de Paracatu, me mudei pra Brasília em 2001 pra estudar Relações Internacionais, e aqui em Brasília eu construí minha vida pessoal. Eu casei, tive meus filhos e também construí a minha vida profissional. Então, eu fiz Relações Internacionais aqui na UCB, uma instituição que me acolheu na graduação, na pós-graduação e na minha vida profissional.

Já tenho quase vinte anos de história com a UCB, primeiro como estudante e há treze anos como docente. Atualmente eu trabalho como docente no curso de Relações Internacionais e no curso de Administração, e também trabalho como coordenadora da CPA que é a Comissão Própria de Avaliação da instituição, então cuido dos processos de autoavaliação institucional.


Marcelo Almeida: Quais são suas definições de Comércio Exterior?


Camilla Cunha: Excelente. A minha visão de comércio exterior quando eu cheguei aqui na universidade era uma visão de business, de international business. A minha mãe era do SEBRAE Minas, então eu cresci trabalhando com negócios, e eu achava aquilo muito legal. Quando eu comecei a fazer Relações Internacionais, eu percebi que toda essa parte de estratégia e de negócios, poderiam também ser feitas no âmbito internacional.

Então comércio exterior na minha visão, eu enxergo como uma área de negócios internacionais que extrapola o comércio exterior em si que tem aquela parte operacional, onde a gente vai operacionalizar os processos. Então, o comércio exterior é uma área mais estratégica que pode abranger negócios internacionais, onde a gente consegue viabilizar o comércio entre empresas de países diferentes, onde a gente consegue verificar todo o metiér do comércio internacional.


O comércio exterior é a relação de um país com o outro em termos de negócios internacionais e eu costumo dizer que o governo, no âmbito dos países, facilita o comércio, mas quem faz comércio exterior é a iniciativa privada, é a indústria, são as empresas que compram e vendem no âmbito internacional seguindo, obviamente, as regras internacionais de comércio e as regras dos países.


“Quem faz comércio exterior é a iniciativa privada, é a indústria, são as empresas que compram e vendem no âmbito internacional.”

Marcelo Almeida: Onde um profissional de Comércio Exterior pode atuar? Como é o campo de trabalho?


Camilla Cunha: O profissional de Relações Internacionais, tem um campo vasto na área de comércio exterior. Eu costumo dizer que a iniciativa privada é a grande empregadora do profissional que vai trabalhar na área de comércio exterior, considerando que são as indústrias e as empresas que fazem comércio. Então a gente tem um campo muito vasto de atuação profissional na área privada e empresas de todos os portes, seja pequeno, médio ou grande e até mesmo nas grandes multinacionais, então a gente tem um campo muito grande de atuação nas empresas, fazendo comércio, cuidando de documentação, fazendo negociação, indo pra feiras internacionais, abrindo mercados... então na área privada tem uma área muito grande.


Já na área pública e na área de instituições, se você pega o nosso governo brasileiro, tem muitos órgãos públicos que trabalham na facilitação do comércio exterior e na criação das regras, então dentro do Ministério da Economia, a Secretaria de Comércio Exterior, temos vários analistas de comércio exterior, é uma carreira na área pública, você ser analista de comércio exterior, tem um concurso público específico pra quem quer seguir essa carreira, a gente tem, por exemplo, a APEX que é a Agência de Promoção das Exportações e Investimentos que também tem concurso público pra quem quer trabalhar nessa área, sem falar em outros órgãos que não trabalham diretamente, mas tangenciam, facilitam e contribuem pra que as ações de comercio exterior sejam viabilizadas, por exemplo, o Ministério da Agricultura, também temos os órgãos anuentes, como a Anvisa, o IBAMA e o Inmetro, que são vários órgãos públicos que fazem parte do comércio exterior.


Então, existe toda uma gama, uma rede de órgãos intervenientes e que ali precisam de profissionais de comércio exterior, sem falar nas embaixadas do Brasil no exterior, as embaixadas estrangeiras aqui, o próprio Ministério das Relações Exteriores que é quem cuida das embaixadas do Brasil no exterior, a gente tem ali o Secom que é o setor comercial que vai ajudar as empresas brasileiras lá fora, abrir mercados, então a parte das embaixadas também eu vejo como grande potencial para a atuação profissional.


Os órgãos, tais como, CNI, Sebrae, as câmaras de comércio, existem várias câmaras de comércio bilaterais né, por exemplo, como a Amcham American Chamber, a câmara de comércio Brasil-Estados Unidos, mas a gente tem Brasil-França, tem a câmara Nipo-Brasileira, tem várias câmaras de comércio que podem ser facilitadoras. Nas Organizações Internacionais a gente tem a própria Organização Mundial de Comércio, a gente tem outras organizações, e sabemos que o ex-diretor geral da OMC era um brasileiro, Roberto Azevedo, que alcançou o cargo máximo da OMC, então é um lugar onde a gente pode trabalhar. A Tatiana Prazeres foi secretaria de comércio exterior também, trabalhava na OMC, então tem muitas possibilidades, é um campo muito vasto de atuação.



Marcelo Almeida: O que te motivou a atuar e se especializar nessa área?


Camilla Cunha: É uma área que eu gosto muito. Além de ser produtora e trabalhar na universidade, eu sempre atuei fora da universidade na área privada. Comecei dentro da empresa júnior CONEX, meu primeiro emprego, e ali foi que eu me apaixonei pela área de comercio exterior. O fato de eu ter participado da empresa júnior, abriu o mercado no qual eu consegui o meu primeiro estágio no centro internacional de negócios da FIBRA. Trabalhei como estagiária e, depois quando me formei, tive a oportunidade de ser contratada e trabalhar mais dois anos.


Trabalhei quatro anos no CIN (Centro Internacional de Negócios). Ali foi onde eu comecei a conhecer pessoas e fazer parcerias. Eu trabalhava na FIBRA e comecei a dar aulas na UCB e, nesse momento, comecei a participar do processo seletivo para ser consultora do CEBRAI. Então, durante um período da minha vida, eu trabalhei em 3 lugares ao mesmo tempo. Não era casada, não tinha filhos, tinha tempo para me dedicar. Depois acabei tendo que optar e eu acabei saindo da FIBRA, pois tinha que cumprir carga horaria de 40 horas semanas. Optei para dar aulas na universidade. Depois fui me envolvendo com a gestão e abri minha empresa de consultoria. Hoje tenho minha empresa de consultoria que presta serviços ao CEBRAI para CNI. Atendo pequenas empresas que querem se internacionalizar.


Acabei construindo minha área de forma muito paralela. Estudando na universidade, minha dissertação de mestrado foi sobre internacionalização de micro pequenas empresas. Então ao mesmo tempo que na academia eu estudava internacionalização, na prática eu estava vivendo isso com as empresas. Trazia contribuições do mercado para a sala de aula, o que a gente estudava nos livros eu aplicava nas empresas que eu estava atendendo. Então assim minha vida profissional foi construída, permeada com a academia e com o mercado, desde de 2001 até 2021, vai fazer 20 anos que eu comecei a trabalhar nessa área e que me envolvi com a área de comercio exterior. Entendo que é uma área muito promissora que nós, pela formação de internacionalistas, temos um background teórico de teoria política, diplomacia e de direito internacional que dá para nós uma robustez teórica e prática para aplicar de maneira muito consistente no comércio exterior.

“Temos um background teórico de teoria política, diplomacia e de direito internacional que dá para nós uma robustez teórica e prática para aplicar de maneira muito consistente no comércio exterior.”

Marcelo Almeida: Se você tivesse que listar os prós e contras dessa área, quais seriam?


Camilla Cunha: É uma pergunta boa. Costumo dizer que comércio exterior é comércio. Você tem que comprar, você tem que vender. Carrega com a gente todos os desafios de uma vida comercial. De lidar, por exemplo, com imprevistos no mercado. Imagina agora diante de uma pandemia, o que os traders ao redor do mundo tiveram que passar em termos de contratos sendo suspensos, de problemas nas alfandegas, de crises. Então, existe um desafio muito grande que é você lidar com todo esse métier internacional, como culturas diferentes. Você negociar com países diferentes, você tem que aprender muito, estudar muito. E para as mulheres, trabalhar nessa área, é ainda mais desafiador. Eu, uma vez, quando trabalhava na FIBRA, atendi uma empresa e nós estávamos fazendo um estudo de mercado e identificamos países árabes como potencial. A gente ia fazer uma viagem técnica, fazer reunião, retrospecção in loco. A CEO da empresa era mulher e eu, que estava atendendo a empresa, também sou mulher. Nós duas não pudemos ir, porque os negociadores de lá queriam negociar com homens.


Existe um desafio muito grande nessa área, questões culturais, questões mercadológicas, questões alfandegarias. Nós temos que lidar com todas essas questões postas. Para mim, hoje, tenho uma certa dificuldade, depois que tive filhos, para viajar. Durante muito tempo (da minha vida) eu tinha que viajar muito para vários lugares para acompanhar empresa no Brasil e no exterior. Enquanto eu não tinha filhos, eu tinha facilidade para viajar. No começo, quando eu tinha só um filho, ainda levava ele comigo. Eu já fiz várias viagens que carreguei a babá comigo, e ela ficava no hotel e eu ia para a feira (Evento de Comércio Exterior). Na hora do almoço, eu voltava para amamentar. Então, para a mulher ainda tem esse outro desafio de conciliar a questão profissional com a questão materna.


É um outro desafio. mas tem muitos prós. Coisas que são favoráveis a essa opção, como o dinamismo. Você nunca lida coma a mesma coisa, afinal, todo dia são empresas diferentes, desafios diferentes e se aprende muito porque você tem que estudar bastante.


A gente está vivendo agora no Brasil uma mudança nos processos de comércio, de ter um portal único, de ter uma abordagem single window, tudo mudou. A forma de se fazer comércio, hoje, é completamente digital. É mais rápida a integração nos agentes. Antigamente tinha uma visão muito burocrática do comércio exterior e hoje as coisas estão muito mais dinâmicas, estão online, estão na nuvem. Isso facilita muito.


Temos a tecnológica ajudando os processos. Em momentos de pandemia, então, não pode ter feira. A gente abre mercado com feiras internacionais. É onde você faz match make, aonde quem compra está perto de quem vende. E agora que eu não posso mais encontrar, não posso mais ter feiras, o que a APEX (Agencia de Promoção das Exportações e Investimentos) está fazendo? Se reinventando! Fazendo feiras online, fazendo feiras virtuais, rodadas de negócios virtuais. É uma profissão que a gente se adapta, que a gente se adequa e tocamos o barco.

“Você nunca lida coma a mesma coisa. Todo dia são empresas diferentes, desafios diferentes e se aprende muito porque você tem que estudar bastante.”

Marcelo Almeida: Bom que já entramos no assunto da nossa próxima pergunta, que é justamente sobre o papel da mulher. Sabemos que em muitos casos, as salas de aula de relações internacionais são compostas em maioria por mulheres, mas existe o receio desse número não se converter no mercado de trabalho. Gostaria de saber se a senhora teve alguma dificuldade de inserção dentro desse ramo de Comércio Exterior por ser uma mulher.


Camilla Cunha: Ótimo, Marcelo, acho que essa questão, é bem importante, eu gosto muito de discutir porque ela é muito necessária, a gente tem que falar disso né? Eu já vivi na pele desafios no comércio exterior, por ser mulher, de não poder negociar no país onde mulher não sentava à mesa para negociar com homem, então eu já vivi na pele experiências como essa. Mas para além disso eu penso que nós temos um desafio maior de conciliar a vida profissional e pessoal, por que a mulher é mãe, ela tem licença maternidade, ela tem uma série de questões que no Brasil ainda são enraizadas, ontem mesmo eu participei de um evento na FIBRA sobre empreendedorismo feminino e eles estavam com dados, com pesquisas mostrando como que é essa questão cultural, como a mulher empreende, hoje já tem dados de que a mulher empreende muito no Brasil, a mulher já está no mercado de trabalho e se você pega o nosso curso de relações internacionais a gente tem salas de aula onde a maioria são mulheres que estão estudando.


Quando eu trabalhava no SIN nós tivemos uma época que todas as pessoas do setor eram mulheres, a minha chefe, a analista e nós éramos quatro estagiárias, então você vê que a mulher já ocupa, apesar de todos os desafios, a questão cultural posta na mulher, a gente vê, há pesquisas científicas que mostram a questão de nível salarial, ainda há diferenças, mas eu sou do time das otimistas, em que as mulheres já estão conseguindo conquistar sua posição, elas são competentes, elas mostram, elas entregam, tem entregas efetivas, tem uma questão de sensibilidade por trás, eu acho que em termos de negociação a gente tem conseguido trazer elementos variáveis para conduzir certos processos que a gente tem vantagens, eu gosto muito da perspectiva da meritocracia independente do gênero, das entregas, mas defendo que a mulher ocupe cada vez mais seu espaço no mercado de trabalho, por que a gente tem muito a colaborar e a entregar.

“Eu gosto muito da perspectiva da meritocracia independente do gênero, das entregas, mas defendo que a mulher ocupe cada vez mais seu espaço no mercado de trabalho, por que a gente tem muito a colaborar e a entregar.”

Marcelo Almeida: Para finalizar nossa entrevista, gostaria de pedir que desse conselhos para quem se interessa ou tenha desejo em ingressar nessa área?


Camilla Cunha: Muito bom, Marcelo, quem tem a veia empreendedora, quem gosta do mundo dos negócios né? É uma área sensacional, é uma área que convida a gente a participar, é um dinamismo, é uma área muito dinâmica, que coloca a gente diante de desafios diários e oportunidades de aprendizados, então a gente aprende todo dia e se a gente aprende todo dia a gente precisa estudar todo dia, então a minha primeira dica é muito estudo, tem que estudar e vocês estão no lugar certo, que é dentro da universidade, com uma grade curricular muito bem pensada, estrategicamente pensada, com disciplinas que fazem sentido, eu costumo dizer que não só as disciplinas de comércio exterior que te preparam para atuar em comércio exterior, a disciplina de direito, a disciplina de história, disciplina de diplomacia, tudo, é o conjunto que faz a gente ser esse profissional completo, então, estudar a área técnica, estudar idiomas, o comércio exterior basicamente em inglês, então a primeira coisa estudar inglês, depois estudar outros idiomas.


Também temos a questão de treinar competências e habilidades para além de questões técnicas, saber o que é um incoterm, saber o que é uma NCM, a gente tem que ter responsabilidade, cumprir horários, saber trabalhar em equipe, desenvolver oratória, habilidade de escrita, saber bem o português, saber escrever, saber argumentar, saber negociar, então existe um conjunto de competências que a gente precisa desenvolver, e como é que a gente desenvolve? Cursando bem a universidade, participando das atividades extraclasse, dos núcleos, a gente tem uma empresa júnior muito tradicional, tem quase vinte anos que tá no mercado, então quem gosta de comércio exterior eu faço o convite a fazer parte da CONEX, conhecer o que a empresa faz, é um bom começo, é um ponta pé inicial interessante, e participar de eventos, hoje com o mundo online tem muitos webnars, tem muita coisa acontecendo, eventos online que vocês podem participar, fazer parte disso, acompanhar plataformas de governo, a gente tem o website Brasil investe export que tem ali um repositório de informações na área de comércio exterior que vocês podem acessar e acompanhar as notícias e ver o que tá acontecendo no mundo, é um bom começo para quem gosta da área.

“A gente tem que ter responsabilidade, cumprir horários, saber trabalhar em equipe, desenvolver oratória, habilidade de escrita, saber bem o português, saber escrever, saber argumentar, saber negociar, então existe um conjunto de competências que a gente precisa desenvolver.

Marcelo Almeida, Acadêmico de Relações Internacionais na Universidade Católica de Brasília.

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