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Profissões em RI - Carreira Acadêmica

Entrevista com Jean Lima por Equipe NUPRI


Hoje daremos continuidade ao projeto Profissões em RI, onde entrevistamos profissionais de diversos campos das relações internacionais, tendo o intuito de compartilhar informações e curiosidades para nossos leitores sobre as mais diversas possibilidades de atuação.

Nosso convidado de hoje é o professor Jean Lima, que irá falar um pouco sobre a área de pesquisa em relações internacionais.

Abaixo você encontra a transcrição dessa conversa...













Equipe NUPRI: Faça uma pequena apresentação falando sobre você, sua área de pesquisa, a motivação para ter escolhido essa área, e os maiores desafios que o senhor teve ao longo de sua trajetória.


Jean Santos: Sou Doutor pelo Instituto de Relações Internacionais da UnB, tendo cursado créditos optativos no Departamento de Economia. Minha principal área de pesquisa é a Economia Política Internacional, lidando sobretudo com Desenvolvimento Socioeconômico e Integração Econômica. Minha segunda grande área é a Política Internacional Contemporânea de modo amplo, quando me volto ao estudo sobre potências como Estados Unidos, União Europeia, China, Índia, Rússia e a configuração da Segurança Internacional.


Sempre fui bastante curioso, questionador, gosto de ser desafiado e de argumentar, e desde criança fico insatisfeito com explicações do senso comum. Antes de ser professor e pesquisador, já cogitei estudar para ser médico, para trabalhar com medicina diagnóstica, ou policial federal, a fim de investigar crimes de natureza complexa. Escolhi Relações Internacionais como área de estudo por englobar diversas áreas do conhecimento, e por gostar muito de Ciência Política e Ciências Econômicas; as áreas de pesquisa em RI que escolhi são produtos das intersecções entre elas.


Pesquisar exige dedicação, foco e muita leitura. Tudo isso acaba exigindo tempo e de certa forma recursos financeiros, e essas duas coisas nem sempre andam juntas. Como não venho de condições sociais muito favoráveis, o desafio sempre foi buscar a melhor formação possível no tempo disponível, vivendo com bolsas de pesquisa sem apoio financeiro adicional. Antes de tudo, foi necessário competir pelas limitadas vagas em programas de pós-graduação e institutos de pesquisa. No entanto, como disse, gosto de desafios. Tudo foi um grande aprendizado



Equipe NUPRI: Fale um pouco sobre o que é a pesquisa em relações internacionais e em quais áreas de atuação profissional uma pessoa que se dedica a isso pode atuar.


Jean Lima: Pesquisa em RI forma um campo infinito de possibilidades devido à natureza multidisciplinar do curso: Política, História, Sociologia, Direito e Economia, para listar algumas das áreas. Tenho notado um interesse crescente nos próprios profissionais de RI pela política doméstica do Brasil, compartilhando espaços tradicionais de cientistas políticos, por exemplo, o que tem ampliado ainda mais o escopo de pesquisa.

A pesquisa em Relações Internacionais, a meu ver, se caracteriza por investigar como o mundo lá fora impacta o que fazemos aqui dentro de um país ou região e vice-versa (em termos mais técnicos, as interações entre unidades de análise domésticas e externas), o comportamento de diversos atores internacionais, as possibilidades de desenvolvimento conjunto das nações, os desafios para a paz e segurança internacional, e a gestão compartilhada de questões que só podem ser solucionadas por meio de esforços conjuntos das nações como a emergência climática.


Pesquisadores de RI no Brasil podem realizar pesquisas para consultorias, pleitear bolsas de pesquisa em agências como CAPES ou CNPq (geralmente por meio de uma instituição de ensino superior), participar de chamadas públicas como as do IPEA, e/ou estar vinculado a instituições de pesquisa ou think tanks. Grande parte das pesquisas são realizadas no âmbito universitário, sobretudo por professores e alunos de pós-graduação (ainda que não seja uma tarefa tão fácil lecionar e pesquisar ao mesmo tempo). Em países desenvolvidos, há maior abertura do que no Brasil para ganhos com pesquisa em virtude do apoio imensamente superior de empresas e governos.



Equipe NUPRI: Quais características você acredita que sejam fundamentais para o êxito de um pesquisador na área de Relações Internacionais?


Jean Lima: Ter conhecimento no mínimo intermediário de inglês, e se possível de outras línguas estrangeiras. Ter noções de métodos e técnicas de pesquisa. É preciso gostar muito de ler, acompanhar as publicações da área, e principais periódicos. Estar bem informado também é muito importante, assim como estar atento às principais discussões e às demandas do momento, pois as prioridades em termos de agenda internacional mudam também. Tendo isso em mente, quando chegar o momento, o pesquisador ou aspirante sempre encontrará uma oportunidade de pesquisa.



Equipe NUPRI: Quais passos você considera importantes para as pessoas que estão pretendendo seguir nas áreas de pesquisa em Relações Internacionais?


Jean Lima: Leia, escreva, revise, e busque melhorar e sofisticar o que escreve. Não em termos de tornar mais difícil o texto, mas sim legítimo perante à comunidade científica. Buscar fazer o melhor em poucas páginas com organização e estrutura de argumentação já ajuda bastante no processo daqueles que querem pesquisar. Busque ler textos em sua língua original. É chato no início, mas é assim que se aprende a ler mais rápido em inglês e conseguir captar as informações mais importantes num texto científico de RI. Os termos irão se repetir com o tempo. É importante também participar de congressos, de projetos de iniciação científica, e de grupos de pesquisa; ajuda na formação, e facilita a entrada em programas de pós-graduação.



Equipe NUPRI: Quais os aspectos que você considera serem negativos ou desestimulantes na atuação dos pesquisadores da área de Relações Internacionais?


Jean Lima: Falta de reconhecimento, notavelmente no Brasil, do valor da pesquisa para a sociedade, assim como da ciência e da educação. Levantar a bandeira dessas causas é muito comum, mas a mudança de verdade quase nunca acontece. Há muitas categorias, mais poderosas e mais organizadas, incrustadas nas burocracias estatais que não abrem mão de seus privilégios em prol de maiores investimentos na área de pesquisa, educação e ciência e tecnologia. Infelizmente, quem deixa de crescer e se desenvolver de verdade é o Brasil. A luta parece ser um caminho bem longo e duradouro.


No contexto de restrição orçamentária, nós temos ainda cortes de bolsas de pesquisas, e menos oportunidades em institutos que remuneram pelo trabalho de pesquisa fora do âmbito universitário.


Do ponto de vista pessoal, é muito comum pesquisadores – por geralmente exercerem outra atividade – acabarem abdicando de horas de lazer e vida social para as horas de trabalho. É importante que o aspirante a pesquisador tenha noção de que é possível alcançar um equilíbrio.



Equipe NUPRI: Você acredita que sua área de atuação oferece as mesmas oportunidades para homens e mulheres?


Jean Lima: Como em diversas áreas, acredito que não, seja direta ou indiretamente. Muitas vezes as mulheres possuem menos tempo para se dedicarem à pesquisa, especialmente se precisarem trabalhar em outra área ou atividade e/ou forem de origem de baixa renda. Além disso, as mulheres são (ainda hoje) mais cobradas da sociedade do que os homens por papeis como de cuidado com aparência, casa, filhos, etc.


Acredito, no entanto, que felizmente alguns institutos e instituições internacionais têm reconhecido e buscado reduzir essas desigualdades de gênero em processos seletivos, principalmente quando mulheres de perspectiva inclusiva fazem parte do processo de tomada de decisão.



Equipe NUPRI: Qual conselho você dá para quem tem interesse em seguir carreira como pesquisador na área de Relações Internacionais?


Jean Lima: A princípio, leia de tudo ao longo do curso. Tenha uma visão geral. Na reta final, busque identificar suas áreas de interesse e as abrace. Assim você poderá se tornar um especialista e um pesquisador nessas áreas. Isso serve para qualquer área das Ciências Sociais e Humanas. Aconselho também estar aberto à possibilidade de pesquisas em outras regiões do Brasil e em outros países.


Como incentivos, eu diria que você como pesquisador se torna produtor de conhecimento, exercendo uma função importantíssima para a sociedade. Além disso, pesquisas publicadas em bons periódicos podem render promoções na carreira, bem como maiores chances de aprovação em seleções que considerem a avaliação de títulos.


Equipe NUPRI.

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